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Petróleo: Tensão na Venezuela e Excedente Global Mantêm Preços Perto de Mínimas Históricas
Resumo:Em 18 de dezembro de 2025, o mercado de petróleo vive um paradoxo palpável. Enquanto as manchetes noticiam uma escalada geopolítica de alto risco nas águas da Venezuela, os preços do barril mal conseguem sustentar um frágil movimento de alta.

Publicado em 18/12/2025
Em 18 de dezembro de 2025, o mercado de petróleo vive um paradoxo palpável. Enquanto as manchetes noticiam uma escalada geopolítica de alto risco nas águas da Venezuela, os preços do barril mal conseguem sustentar um frágil movimento de alta. O West Texas Intermediate (WTI) opera na faixa de US$ 56,3 a US$ 56,5, e o Brent oscila em torno de US$ 60, após tocarem mínimas histórias recentes. Este cenário aparentemente contraditório – onde um potencial choque de oferta é recebido com um mero suspiro de alta – revela a batalha central que define o mercado energético atual: a tensão entre riscos geopolíticos pontuais e uma narrativa macroeconômica dominante de excedente estrutural e demanda moderada. O anúncio de um bloqueio naval pelos EUA, as retaliações de Maduro e a intervenção da ONU criam um prêmio de risco inegável, mas ainda insuficiente para romper o teto imposto por inventários crescentes e projeções de oversupply para 2026.
O Gatilho Geopolítico: O Bloqueio à Venezuela e sua Cadeia de Riscos
No dia 16 de dezembro, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma medida de alto impacto: um “bloqueio total e completo” direcionado a navios-tanque de petróleo sancionados que entram ou saem da Venezuela. O objetivo declarado é estrangular as receitas de petróleo do governo de Nicolás Maduro, aumentando a pressão política e econômica sobre Caracas. Imediatamente, o monitoramento marítimo começou a registrar navios sancionados reduzindo velocidade, alterando rotas ou permanecendo estacionários no mar para evitar abordagens e apreensões. A reação de Caracas foi rápida e escalou a crise. O governo venezuelano não apenas solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, como também ordenou que a Marinha Venezuelana fornecesse escolta armada aos navios que transportam petróleo, elevando dramaticamente o risco de um incidente naval direto entre forças dos EUA e da Venezuela.
Esta crise tem implicações concretas para a oferta. A Venezuela produz atualmente cerca de 900 mil barris por dia (bpd) e depende crucialmente das exportações. Estima-se que aproximadamente 600.000 bpd das exportações venezuelanas estejam potencialmente em risco com o bloqueio, já que uma parcela significativa é transportada pela chamada “frota fantasma” (shadow fleet) de navios sancionados. Além disso, a estatal PDVSA ainda se recupera de um ciberataque recente que paralisou carregamentos, adicionando atrasos logísticos. O efeito imediato é a criação de um gargalo na cadeia de suprimentos. Navios evitam atracar, tanques de armazenamento podem atingir capacidade máxima e, em um cenário extremo, a produção nos campos pode ser forçada a parar por falta de onde colocar o óleo extraído. Este risco de interrupção foi o catalisador para o modesto aumento de 0,7% a 1,0% nos preços do WTI e Brent nesta sessão.
A Narrativa Dominante: O Peso Esmagador do Excedente Global
Contudo, o que impressiona analistas é a modéstia da reação dos preços a uma notícia que, em outro ciclo de mercado, poderia ter disparado os valores. A razão é clara: o mercado está saturado. O sentimento predominante é de “excesso de oferta”, uma narrativa construída sobre dados concretos e projeções conservadoras para 2026. O WTI chegou a fechar perto de US$ 55,27 nesta semana, seu menor patamar desde fevereiro de 2021, e acumula uma queda de aproximadamente 21% no ano. O Brent segue caminho similar, com retração de quase 20% no year-to-date.
Os dados de inventários dos EUA ilustram esse desequilíbrio. Na semana encerrada em 12 de dezembro, os estoques de crude caíram em 1,3 milhão de barris, mas os estoques de gasolina e destilados subiram acima do esperado. Este é um sinal revelador: as refinarias estão operando em alta capacidade, mas a demanda final por produtos refinados não é forte o suficiente para absorver toda a produção, resultando em acúmulo a jusante. Globalmente, o petróleo “sobre a água” (on water) – carregamentos à deriva em alto-mar à espera de compradores – também aumentou significativamente, indicando um mercado físico fraco.
As projeções das principais agências energéticas pintam um quadro sombrio para 2026. O crescimento da demanda global está estimado em torno de 860.000 bpd para o próximo ano, um ritmo considerado moderado. Do lado da oferta, no entanto, a expansão vinda de produtores não-OPEC+, como EUA (shale), Brasil, Guiana e Argentina, além da produção mantida pela Rússia (apesar das sanções), cria cenários de superávit potencial que variam de 0,5 a mais de 4 milhões de bpd. Esta projeção de excesso estrutural atua como um teto quase intransponível para qualquer alta de preços, fazendo com que cada pico motivado por geopolitica seja rapidamente visto como uma oportunidade de venda (sell-the-rally).
Previsões de Preço para 2026: Um Piso e Teto Bem Definidos
Diante deste embate entre risco e oferta, as previsões das instituições financeiras para 2026 convergem para uma faixa estreita e deprimida. O consenso aponta para um ano de preços contidos, com pouca expectativa de um bull market.
- Uma projeção oficial dos EUA vê o Brent com média em torno de US$ 55 no primeiro trimestre de 2026, mantendo-se próximo a esse nível durante o ano.
- Um grande banco de investimento projeta Brent em cerca de US$ 56 e WTI perto de US$ 52 para 2026.
- Um survey com analistas publicado recentemente aponta para uma média de Brent de US$ 62,2 e WTI de US$ 59,0.
A mensagem comum é que 2026 será um ano de preços baixos e superávit, não um mercado estruturalmente apertado. O debate se concentra não no “se”, mas no “quando” os preços se recuperarão, com várias casas sugerindo que apenas em 2027 os valores precisarão subir para incentivar novos investimentos em produção, à medida que a vida útil das reservas diminui e o shale americano amadurece.
O Limiar da Dor: Onde a Oferta Começa a Se Contrair
Apesar do cenário desalentador, existe um piso dinâmico para os preços, definido pelo limiar de dor dos produtores. A faixa atual de WTI em US$ 55-57 já é desconfortável para muitos. Modelos internos de grandes bancos sugerem que, se o WTI tiver uma média de US$ 57 em 2026, a produção de xisto americano poderia encolher em aproximadamente 70.000 bpd, em vez de crescer. A contagem de rigs de petróleo nos EUA já caiu mais de 15% desde o início do ano, atingindo o nível mais baixo desde o final de 2021, sinalizando uma desaceleração na atividade.
Para os países da OPEC+, cujos orçamentos nacionais dependem fortemente da receita do petróleo, preços persistentes na faixa dos US$ 50-60 são dolorosos do ponto de vista fiscal. Assim, a faixa de US$ 50-55 para o WTI é vista como um gatilho potencial para uma resposta forçada do lado da oferta: cortes mais profundos da OPEC+, adiamento de projetos de alto custo e um ajuste mais agressivo nos gastos de capital (capex) no shale. O mercado atual precifica o superávit, mas ainda não precifica um mundo onde os produtores são forçados a uma contração significativa de oferta. Este mecanismo estabelece um suporte fundamental que impede uma queda livre descontrolada.
A Demanda: Resiliente no Longo Prazo, Cautelosa no Curto Prazo
No lado da demanda, os dados apresentam nuances. No curto prazo, o cenário é de cautela, com crescimento econômico global moderado, ganhos de eficiência e a expansão de alternativas energéticas. No entanto, perspectivas de um colapso estrutural são exageradas. Dados recentes mostram uma demanda robusta por combustíveis na Índia, que se consolidou como um dos principais compradores marginais de crude do mundo. Além disso, as previsões de pico da demanda (peak oil) foram consistentemente adiadas; algumas grandes instituições agora esperam que o consumo global de petróleo continue a subir pelo menos até 2040, ainda que em um ritmo mais lento.
Essa resiliência de longo prazo não salva o mercado em 2026 de seu desequilíbrio iminente, mas fornece um piso de consumo base que sustenta a ideia de que o petróleo permanecerá uma commodity vital por décadas. A pressão de curto prazo vem do acúmulo de estoques e do excesso de produção, não de um desaparecimento abrupto da demanda.
Perspectiva Técnica: Padrão de “Venda na Alta” em um Canal de Baixa
A ação do preço reflete fielmente o embate fundamental. Tanto o WTI quanto o Brent operam dentro de uma tendência de baixa mais ampla, com qualquer alta sendo tratada como um movimento corretivo dentro de um canal descendente. Para o WTI, a região de US$ 55 é um piso-chave de curto prazo. Uma quebra decisiva abaixo desse nível exporia rapidamente a área de US$ 52. Movimentos de alta em direção à faixa de US$ 58-60 continuam sendo vistos como oportunidades de venda, não como o início de um novo uptrend. Para o Brent, a marca de US$ 60 tornou-se um pivô, não um suporte sólido. Tentativas repetidas de romper para os US$ 60 baixos têm sido vendidas e o gap é rapidamente fechado.
Indicadores de momentum e o padrão de recuperações fracassadas apontam para um mercado que está tentando formar uma base, mas sem confirmação técnica. Não há validação técnica para uma fase de alta sustentada até que o WTI possa negociar consistentemente acima de US$ 60 e o Brent consiga se estabilizar na faixa dos US$ 60 médios. A estratégia predominante, portanto, continua sendo “vender na alta” (sell-the-rally), e não “comprar na queda”.
Conclusão: Uma Estratégia de Paciência em um Mercado em Equilíbrio Precário
O mercado de petróleo em 18 de dezembro de 2025 é um estudo de forças opostas em equilíbrio precário. De um lado, a crise na Venezuela introduz um prêmio de risco geopolítico real, com o potencial de interromper até 600.000 bpd de exportações e criar incidentes imprevisíveis. Do outro, a realidade esmagadora de inventários elevados, produção resiliente fora da OPEC+ e projeções de superávit para 2026 impõe um teto firme aos preços.
Para o investidor ou trader, a conclusão é clara. No curto prazo (próximos 6-12 meses), o viés tático permanece cauteloso ou levemente baixista. Forças de alta para o WTI acima de US$ 60 e Brent acima de US$ 65 provavelmente encontrarão venda pesada, dado o cenário fundamental de excesso de oferta. No entanto, no horizonte de 12-24 meses, a visão estratégica muda para neutra ou de manutenção (HOLD). Os preços próximos ou abaixo de US$ 50 para o WTI ativariam mecanismos de autocorreção no lado da oferta, criando um piso dinâmico. Simultaneamente, o subinvestimento crônico em novos projetos de exploração e a maturação do shale americano criam um caminho crível para uma recuperação de preços em direção à faixa de US$ 65-75 para o Brent na segunda metade da década.
Portanto, o mercado atual exige paciência e discernimento. Os riscos geopolíticos exigem monitoramento constante, pois um erro de cálculo no Caribe pode desencadear volatilidade aguda. Mas a estratégia macro deve reconhecer que, até que os dados de inventários globais mostrem um aperto sustentado ou que a OPEC+ anuncie cortes mais profundos e críveis, a narrativa do excedente continuará sendo o vento predominante, limitando o voo do preço do barril, não importa quantas faíscas geopolíticas surjam no horizonte.

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