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Dólar em Queda Livre: Real Dispara na Última Sessão de 2025 em Meio a Dados Positivos
Resumo:A última terça-feira de 2025, 30 de dezembro, foi marcada por um movimento forte e direcional nos mercados financeiros brasileiros: o dólar comercial caiu de forma expressiva, enquanto o real se destacou como uma das moedas de melhor desempenho entre seus pares emergentes. Em um dia caracterizado pela baixa liquidez típica do período entre Natal e Ano-Novo, mas também pela elevada volatilidade devido à formação da Ptax de fim de mês, os investidores reagiram a um conjunto de dados econômicos domésticos mais positivos que o esperado e se prepararam para a liberação de um importante insumo externo: a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed). Este artigo mergulha nas nuances que definiram o câmbio na derradeira sessão do ano, explorando as cotações, os motivos por trás da queda do dólar, o impacto da taxa de desemprego recorde e o que se esperava da comunicação do banco central americano.

Publicado em 30/12/2025
A última terça-feira de 2025, 30 de dezembro, foi marcada por um movimento forte e direcional nos mercados financeiros brasileiros: o dólar comercial caiu de forma expressiva, enquanto o real se destacou como uma das moedas de melhor desempenho entre seus pares emergentes. Em um dia caracterizado pela baixa liquidez típica do período entre Natal e Ano-Novo, mas também pela elevada volatilidade devido à formação da Ptax de fim de mês, os investidores reagiram a um conjunto de dados econômicos domésticos mais positivos que o esperado e se prepararam para a liberação de um importante insumo externo: a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed). Este artigo mergulha nas nuances que definiram o câmbio na derradeira sessão do ano, explorando as cotações, os motivos por trás da queda do dólar, o impacto da taxa de desemprego recorde e o que se esperava da comunicação do banco central americano.
Panorama Inicial das Cotações
O dia começou com o dólar à vista já operando em território negativo. Logo na abertura, a moeda norte-americana registrou uma queda de 0,54%, sendo cotada a R$ 5,5410 no preço de venda. Esta abertura fraca representou um ajuste técnico após a sessão anterior, na segunda-feira (29), quando o dólar havia fechado em alta de 0,58%, aos R$ 5,5770. A tendência de queda se aprofundou conforme a manhã avançava. Por volta das 9h38, o contrato futuro mais líquido, o dólar futuro para janeiro de 2026, registrava uma desvalorização de 0,66% na B3, sendo negociado a R$ 5,53650. O movimento ganhou força nas horas seguintes. Às 10h05, o dólar à vista despencava 1,01%, sendo vendido a R$ 5,5209, enquanto o futuro de janeiro recuava 1%, para R$ 5,5180. No fechamento da manhã, por volta das 10h37, a perda se consolidava em 1,13%, com o dólar comercial sendo negociado a R$ 5,507 para compra e R$ 5,508 para venda. Este movimento significativo em um único dia de pregão destacou a força do real em um contexto de final de ano.
Contexto do Mercado: Baixa Liquidez e Formação da Ptax
Um fator crucial para entender a magnitude dos movimentos observados em 30 de dezembro foi o ambiente de mercado. Estamos falando da última sessão do ano, um período historicamente caracterizado por liquidez reduzida. Muitos traders e gestores de fundos já estão de férias, o que significa que volumes negociados são menores. Em tais condições, movimentos de preço podem ser amplificados, pois ordens relativamente pequenas têm um impacto percentual maior. Além disso, este dia específico era marcado pela formação da Ptax do mês de dezembro. A Ptax é uma taxa de câmbio de referência calculada pelo Banco Central do Brasil (BCB) com base nas cotações do mercado à vista durante todo o dia. Ela é utilizada como benchmark para a liquidação de uma série enorme de contratos futuros de dólar e outros instrumentos financeiros. No último dia útil de cada mês, agentes financeiros que possuem posições vencendo nestes contratos frequentemente tentam influenciar as cotações à vista para que a Ptax feche em um nível mais favorável às suas carteiras. Se um agente tem uma posição vendida em dólar (apostando na queda da moeda), ele tem interesse em pressionar as cotações para baixo naquele dia. Esse fenômeno, conhecido como “batalha da Ptax”, adiciona uma camada extra de volatilidade e pode explicar parte da pressão vendedora intensificada sobre o dólar observada nessa terça-feira.
O Impacto dos Dados Econômicos Domésticos Positivos
Enquanto fatores técnicos e de fluxo criavam o cenário, a fundamentação para a valorização do real veio de dados macroeconômicos sólidos divulgados logo no início da manhã. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a taxa de desemprego referente ao trimestre móvel encerrado em novembro de 2025. O resultado foi surpreendentemente positivo: a taxa de desocupação caiu para 5,2%, renovando o patamar mais baixo da série histórica, que teve início em 2012. Este número não apenas melhorou em relação ao trimestre anterior, como também ficou abaixo das projeções do mercado financeiro, que, segundo uma pesquisa da Reuters, esperavam uma taxa mediana de 5,4%. A queda do desemprego veio acompanhada por novos recordes no número de pessoas ocupadas e na massa de renda real do trabalho. Este conjunto de indicadores pintou um quadro de um mercado de trabalho aquecido e resiliente, um sinal fundamental de força da economia brasileira. Para investidores estrangeiros e locais, uma economia com baixo desemprego e renda em alta sugere consumo interno robusto, crescimento sustentado e menor risco político-social. Isso aumenta o atrativo de ativos brasileiros, incluindo o real, levando a uma entrada de capitais que pressiona a cotação do dólar para baixo. O dado serviu como um contraponto otimista às preocupações globais e fortaleceu a tese de que a economia brasileira poderia estar entrando em um ciclo mais virtuoso.
A Espera pela Ata do Federal Reserve
Se por um lado os dados domésticos empurravam o real para cima, por outro, o foco externo estava inteiramente voltado para o Federal Reserve. Às 16h (horário de Brasília) estava prevista a publicação da ata da reunião de política monetária realizada pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em meados de dezembro. Naquela reunião, o Fed havia decidido, conforme amplamente antecipado, realizar um corte em sua taxa de juros básica. O mercado, no entanto, ansiava por detalhes contidos nas minutas do encontro. Os investidores buscavam pistas sobre o ritmo futuro dos cortes de juros americanos em 2026, a visão do colegiado sobre a trajetória da inflação nos EUA e qualquer sinal sobre uma possível mudança no enxugamento do balanço do Fed (o chamado quantitative tightening). Qualquer tom mais “hawkish” (agressivo contra a inflação) do que o esperado poderia fortalecer o dólar globalmente, limitando os ganhos do real. Por outro lado, uma ata considerada “dovish” (favorável a juros baixos), que indicasse uma trajetória mais acelerada de cortes, poderia enfraquecer ainda mais a moeda americana no exterior, potencializando a alta do real. Portanto, embora o movimento matinal fosse fortemente influenciado por fatores locais, o mercado operava com um pé atrás, consciente de que a publicação da ata poderia redirecionar os fluxos no período da tarde.
Comportamento do Dólar no Exterior e o Índice DXY
Curiosamente, o movimento de baixa do dólar no Brasil ocorreu na contramão do desempenho da moeda no mercado internacional. Enquanto o real valorizava, o dólar amplo mantinha os ganhos da sessão anterior frente a uma cesta de moedas fortes. O índice DXY, que mede o valor do dólar americano contra uma cesta composta por euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço, operava em leve alta de 0,06% a 0,10%, por volta de 98,110 pontos. Isso demonstra que a força do real naquele dia era idiossincrática, ou seja, específica ao contexto brasileiro, e não parte de um movimento generalizado de fraqueza do dólar. De fato, o dólar até recuava frente a alguns pares de moedas de mercados emergentes da região, como o peso mexicano e o peso chileno, sugerindo um apetite por risco seletivo focado na América Latina, possivelmente impulsionado pelos dados positivos do Brasil e a expectativa de ciclos de corte de juros em vários países da região. A divergência entre o desempenho interno e externo da moeda americana destacava a importância dos fatores locais na formação do câmbio naquele momento.
Análise Técnica e de Fluxo no Mercado Doméstico
Analisando sob a ótica de fluxo, o movimento do dólar na terça-feira (30) pode ser interpretado como um ajuste técnico após a alta registrada na véspera (29). A alta de 0,58% no dia anterior pode ter esgotado momentaneamente os compradores, especialmente em um ambiente de final de ano. Com a divulgação de um dado doméstico fortemente positivo, os vendedores ganharam protagonismo, aproveitando a liquidez reduzida para conduzir a moeda para patamares mais baixos. A formação da Ptax, como mencionado, provavelmente exacerbou essa pressão vendedora, com agentes buscando um fechamento mais baixo para a taxa de referência. A atuação do Banco Central do Brasil via swap cambial ou em outros instrumentos, embora não mencionada explicitamente no relatório, é sempre uma variável observada em dias de alta volatilidade e pode ter contribuído para suavizar movimentos mais bruscos, embora a tendência de queda fosse claramente liderada pelo mercado.
Projeções e Previsões para o Câmbio em 2026
Embora o artigo forneça um instantâneo de um dia específico, o mercado já começava a desenhar suas projeções para 2026. A queda do dólar no final de 2025, impulsionada por dados positivos, lançava um otimismo cauteloso sobre a moeda brasileira no ano seguinte. No entanto, analistas alertavam para a volatilidade do primeiro trimestre, que tradicionalmente é marcado pelo recalibramento de portfólios e pela definição do orçamento anual de grandes corporações e fundos. As principais variáveis que moldariam o câmbio em 2026 incluíam: a trajetória dos juros nos EUA definida pelo Fed; o cumprimento das metas fiscais no Brasil e a percepção de risco sobre a dívida pública; a evolução dos preços das commodities exportadas pelo Brasil; e, claro, o desempenho contínuo dos indicadores econômicos domésticos, como crescimento do PIB, inflação e a manutenção da saúde do mercado de trabalho. A taxa de desemprego em níveis recordes, se mantida, seria um pilar importante para a continuidade do ciclo de cortes da taxa Selic pelo BCB, o que, em tese, poderia reduzir o atrativo de renda fixa e exercer alguma pressão desvalorizante sobre o real. O equilíbrio entre esse fator e o fluxo de investimentos estrangeiros diretos e em portfólio seria crucial.
Conclusão: Uma Sessão Sintomática de Tendências Mais Amplas
A última sessão de 2025 no mercado de câmbio brasileiro foi um microcosmo de forças maiores que devem ditar os rumos da economia em 2026. A queda acentuada do dólar para patamares próximos a R$ 5,50 refletiu uma reação imediata e positiva a um dado macroeconômico estrutural forte – um mercado de trabalho em pleno emprego – em um ambiente de liquidez finita e pressões técnicas pontuais como a formação da Ptax. A valorização do real, contudo, foi uma história puramente brasileira, contrastando com a estabilidade do dólar no cenário global à espera do comunicado do Fed. O dia encapsulou a dualidade que o real frequentemente enfrenta: sua sensibilidade a notícias domésticas promissoras e sua vulnerabilidade aos ventos da política monetária global, especialmente da economia americana. A publicação da ata do Fed à tarde, com detalhes sobre o pensamento do banco central mais poderoso do mundo, tinha o potencial de reescrever a narrativa do dia em seus minutos finais ou de validar o otimismo local. De qualquer forma, o fechamento do ano trouxe um sopro de confiança para a moeda brasileira, deixando o mercado atento para ver se os fundamentos positivos seriam capazes de sustentar uma trajetória de valorização duradoura frente aos desafios que o novo ano certamente traria, incluindo o controle da inflação, os riscos fiscais e o cenário externo volátil.

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